Texto: Neuci L. Silva
Fotos: Igor Fernandes e Rafael Corrêa
“Uma economia que faz viver e não mata” é a base para uma ampla reflexão iniciada em Petrópolis-RJ e articulada por oito instituições reconhecidas pela contribuição nas áreas cultural e social. Esse evento piloto, realizado no dia 18 de fevereiro, pretende fomentar a discussão em torno de uma economia menos predatória e mais solidária.
Frei Ivo Müller, diretor do Instituto Teológico Franciscano-ITF (que abrigou a conferência), acolheu os participantes, seguido por Frei José Francisco dos Santos, Fábio Paes e Talita Guimarães (SEFRAS) que explicaram o objetivo e o contexto deste seminário na cidade de Petrópolis e região. O horizonte para compreender a sua importância parte das figuras de Clara e Francisco de Assis, de quem o atual papa herdou o nome e a inspiração.
Trata-se da contribuição franciscana (e brasileira) para o encontro intitulado “A economia de Francisco” que ocorrerá de 26 a 28 de março, em Assis, e contará com a participação de jovens economistas e empresários, com menos de 35 anos, de todo o mundo.
Para este ciclo de palestras, dividido em cinco painéis, foram convidados especialistas em questões ambientais, desigualdades sociais, finanças inclusivas, desenvolvimento sustentável e espiritualidade. O balé do projeto Gente Viva abrilhantou a manhã e deu início às exposições.
Rudá Guedes (sociólogo) abordou os desafios da realidade social, política e econômica da atualidade a partir da perspectiva da Economia de Francisco. De acordo com ele, “a lógica individualista está matando a solidariedade… Estamos lutando contra a destruição da ‘Nossa Casa’”. O sociólogo, que também é coordenador da Articulação Brasileira pela Economia de Francisco (ABEF), ressaltou os três eixos norteadores do pensamento econômico do Papa Francisco:
1) pensar teoricamente a economia (para o desenvolvimento do planeta);
2) acolher e promover experiências de uma nova economia;
3) alterar o currículo das faculdades de Economia. O sociólogo também leu trechos da “Carta de Clara e Francisco – Direto do Brasil para o Encontro Mundial em Assis”.
Leonardo Boff (teólogo), representando o Centro de Defesa dos Direitos Humanos-CDDH, discorreu sobre as mudanças ambientais observadas no planeta e sobre a necessidade da urgência de mudança do paradigma econômico. O atual paradigma de morte deve ser substituído pelo paradigma do cuidado visando a salvação de nossa “Casa Comum”. Ele também alertou para os perigos decorrentes do emprego da energia nuclear; da criação da inteligência artificial autônoma; das catástrofes social e ecológica e da extinção dos bens e serviços (recursos naturais) ofertados pelo planeta terra aos seus habitantes.
Marcos Arruda (economista e educador), coordenador do PACS – Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, fez um breve histórico de sua trajetória pessoal e falou sobre o emprego de recursos financeiros para fins que não visam o bem-estar da humanidade. Destacaram-se a realidade econômico-social brasileira e os aspectos econômicos destes últimos anos.
Frei Vitório Mazzuco (teólogo), da Universidade São Francisco-USF, apresentou a perspectiva de uma Nova Economia baseada na espiritualidade de Clara e Francisco. O frade comentou algumas curiosidades a respeito da pequena cidade italiana de Assis – sede do encontro promovido pelo Papa. Oriundos de famílias poderosas e abastadas, os dois santos são exemplos de conversão – uma verdadeira mudança de vida através de suas escolhas radicais – com raízes também na economia. Ambos optaram por uma economia da doação e da partilha. “Para São Francisco, a pobreza não é ter ou não ter. É a coragem de ter em comum”, assinalou Frei Vitório.
Rosana Padial (assistente social), sócia-diretora da NOUS – Desenvolvimento Profissional Ltda., elencou alguns pactos, práticas e vivências contemporâneas para uma outra economia possível. A rica experiência como assistente social em uma comunidade em Itaquera, São Paulo, fundamentou a sua exposição que também salientou a importância econômica e social de iniciativas como as de aplicativos de economia compartilhada para hospedagem e carona.
Esse primeiro seminário regional contou com a colaboração do Serviço Franciscano de Solidariedade (SEFRAS), Instituto Teológico Franciscano (ITF), Universidade São Francisco (USF), Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH), Editora Vozes, Serviço Inter-Franciscano de Justiça, Paz e Ecologia (Sinfrajupe), Articulação Brasileira pela Economia de Francisco (ABEF) e FAE Centro Universitário.
O final do encontro deixou um convite provocante a indagar e pensar, nos passos de Clara e Francisco, o que significa e como construir uma economia em novas bases que atendam às necessidades do ser humano. Portanto, essa “provocação” não termina aqui. Quem perdeu esta oportunidade deve ficar atento à possibilidade de outros eventos como este.
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