O SEFRAS, em parceria com o Programa Estadual de DST/Aids (CRT) da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria da Saúde do Governo do Estado de São Paulo realizou entre os dias 27 e 28 de maio um “Encontro de discussão sobre o papel dos profissionais da rede de assistência social, rede de saúde e estudantes no combate ao HIV/Aids”.
Durante estes dias o encontro abordou também sobre as vulnerabilidades que envolvem crianças, adolescentes, jovens, indígenas, adultos e idosos vivendo com HIV/Aids e a construção de um conjunto de propostas que possam contribuir para uma maior aproximação entre as redes de serviço.
O primeiro dia do encontro foi marcado por uma série de debates e reflexões sobre a importância de interlocução e integração entre a assistência social e saúde. “Foi fundamental as informações e atualizações no primeiro dia sobre o HIV/Aids, Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), hepatites virais, sífilis, profilaxia pré-exposição, diagnóstico precoce e tratamento que deram alicerce e conteúdo para participar e contribuir nas oficinas temáticas do segundo dia, as quais versam sobre direitos humanos, ações educativas, prevenção, cuidados e tratamento englobando a população em situação de rua, LGBTs, negras, indígenas, crianças, idosos, jovens, estudantes e pessoas que vivem em regiões periféricas sempre na perspectiva da saúde e da assistência social”, pontua a coordenadora do Cefran (Centro Franciscano de Luta contra a Aids), Marcia Elizabeth.
A primeira etapa do debate contou com uma mesa de abertura com o tema “Desafios na relação entre as políticas de assistência social e saúde na prevenção ao HIV e no atendimento às pessoas vivendo e convivendo com o HIV/Aids”. Em sua fala de abertura, o diretor presidente do Sefras, Frei José Francisco de Cássia dos Santos, destacou que a essa iniciativa do Cefran é mais uma expressão do trabalho e luta franciscana junto à questão do HIV/Aids. “Neste contexto queria ressaltar que nossas ações nascem da sensibilidade e com a realidade que nos tocam. Existem situações que nos chamam atenção e nos interpelam para que a gente possa se organizar para dar uma resposta e isso é a história do Cefran.
Tivemos ao longo desses anos um enfrentamento muito grande da sociedade como também da igreja que estava amedrontada na época da alta epidemia do HIV. Depois, com o passar dos tempos, começamos a acompanhar essa doença e isso foi sendo assimilado buscando sempre maior entendimento. Estamos durante todos esses anos participando deste processo de conquistas e como também retrocessos do trabalho em torno das políticas públicas para a população e para a questão do HIV/Aids e vejo que tivemos grandes conquistas até chegar a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), a PEP (Profilaxia Pós-Exposição) e as campanhas de preservativos. Vamos com o tempo driblando as retóricas porque não é fácil atuar em certos campos com os recortes também que a gente tem pelo caminho com atitudes institucionais, modos de pensar diferente e nem sempre é possível atrair a atenção de quem não tem censura”, destacou.
Frei José acrescentou ainda que neste momento é muito importante colocar este tema em debate, principalmente para que não haja retrocessos nos direitos já conquistados. “Hoje estamos aqui abertos a fazer um debate e chamar a atenção para as questões que estão pertinentes em nossos dias, sobretudo que nosso diálogo não seja apenas um debate, mas que possa fortalecer e ter repercussão na questão das políticas públicas que neste momento de crise econômica e outras tantas acerca da economia, como públicas e sociais e que está fragilizando e ameaçando vários programas da saúde, que para nós que estamos nessa longa estrada, são grandes conquistas que parecem que vão desaparecer”, pontuou.
Para o representante do Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo, Paulo Giacomini, o encontro aconteceu em um momento muito importante de luta e resistência às questões relacionadas a saúde. “Este é um encontro que vem em uma hora muito boa, além da questão da emenda constitucional 95 que congela os gastos com investimentos na saúde e educação, temos toda uma série de retrocessos que vem avolumando desde janeiro em que o novo governo assumiu o poder. Outro ponto muito interessante neste encontro foi a questão do consultório na rua, pois nos chama para uma reflexão e isso traz algum ponto de solução que pode melhorar o trabalho das pessoas e esse serviço, em especifico, também corre o risco de extinção e com isso essas pessoas que estão em situação de rua podem ficar desassistidas”, frisou.
Paulo lembrou ainda da importância da presença de um representante da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo. “Em todos esses anos de ativismo e militância que temos enfrentando e o Cefran juntamente com o Sefras também tem contato com essa população diariamente é de que este problema ainda não está solucionado. Sentimos a falta de um representante da Secretaria Municipal de Assistência Social para nos dar uma resposta quanto ao que tem sido feito para com a população que vive com HIV/Aids”, argumentou.
Em seguida foram abertas as mesas de debates. A primeira foi conduzida pela gerente de prevenção do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids da Secretaria de Estado de Saúde, Ivone Aparecida de Paula e teve como tema “HIV/Aids, ISTs e sífilis: prevenção combinada, PrEP, PEP e diagnóstico precoce no Sistema Único de Saúde”.
A Prep vem com um fator de proteção individual, então quem usa está protegido e tem o controle da prevenção. Os estudos que foram feitos mostram que a Prep não é compressão de risco, ou seja, aquelas pessoas que estão usando Prep não é que elas usavam preservativo e deixaram de usar porque tem a Prep, pelo contrário são aquelas que não usavam e que o preservativo não cabe em sua vida. Porém é preciso alertar que, a PrEP não previne outras IST’s e, portanto, deve ser combinada com outras formas de prevenção”, relatou.
Durante sua fala, Ivone também ressaltou sobre a importância do tratamento através dos antirretrovirais, como também não interromper o uso da medicação. “Existe um número muito grande de pessoas em abandono de tratamento e para isso temos trabalhado durante alguns anos com a etapa da rotina do cuidado, ou seja, fazendo ações de promoção, prevenção e diagnóstico, ou seja, incentivando a testagem. Assim que diagnosticado, iniciar o tratamento e depois disso é preciso trabalhar a vinculação, onde vamos acompanhar essa pessoa que teve um resultado positivo para saber se ela esta seguindo com tratamento. Depois disso trabalhamos na retenção, onde procuramos observar essa pessoa, se esta se dando bem no serviço e como ela está se sentindo. Para finalmente chegarmos à adesão, onde verificamos se ela esta usando o medicamento direito e pegando na época certa. Se eu conseguir trabalhar com todas essas etapas teremos no final, no caso da sífilis e hepatites a cura e no caso do HIV teremos a supressão viral, que é essa pessoa indetectável . Se a pessoa fizer tudo isso direito ela terá uma carga viral indetectável e com isso melhorar a qualidade de vida e também não vai transmitir o vírus”, ressaltou.
Para ela, existe ainda um desafio muito grande que é levar essas informações onde vivem pessoas com maior vulnerabilidade social. “Esse movimento de busca e de ir atrás é nosso, dos profissionais de saúde, das ONGs para que possamos chegar até essas pessoas. Se as politicas existem, elas devem ser para todos. Por isso a rede é importante, pois ela vai se capitalizando e mesmo que ela não ofereça o serviço que a pessoa precisa, ela vai ser encaminhada para onde possa ser atendida. Então temos que expandir os serviços que já temos, como também outros serviços ofertarem testagem e expandir as estratégias para além dos serviços específicos de DST e Aids”, concluiu.
A segunda mesa foi coordenada pela coordenadora do Programa Estadual de Hepatites Virais, Silene Caminada, que teve como tema “Hepatites Virais”, e que para ela é uma doença que deve ser discutida, uma vez que muitas pessoas esquecem existe prevenção. “É muito importante que a gente fale cada vez mais sobre as hepatites. Lembrando que para a hepatite B mais importante que fazer a testagem é fazer a vacinação, que é feita em três doses e que as pessoas ficam imunes ao vírus. Já para a hepatite C não tem vacina, precisa fazer o teste, e tendo resultado negativo, conhecer as formas de transmissão do vírus e se tiver exposição novamente, repetir o teste.
A hepatite C não é considerada uma IST, ou seja, ela pode ser transmitida por sangue. São vírus diferentes e com possibilidades diferentes, inclusive de entrar na mucosa”, acrescenta. Silene destacou ainda que a vulnerabilidade social e de gênero piora para essas doenças. “O profissional de saúde tem um papel importante, porém existe uma intersetorialidade que também é preciso levar em consideração. É preciso trabalhar com outras possibilidades de levar a informação para toda a sociedade, as pessoas precisam saber que tipo de tratamento pode fazer, porém como se prevenir de uma coisa que não sabe se é A, B, C, D ou E. Então é importante primeiro saber que são várias e que cada uma se transmite de um jeito, e que para duas delas tem vacina, as outras não, porém tem diagnóstico e que para hepatite C tem tratamento e possibilidade de cura. Então quando tudo é informado, de como se prevenir e como é o tratamento e que existe a vacinação, contribui muito para o controle da doença”, pontuou.
A última mesa foi realizada pela gerente de Assistência Integral à Saúde do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids de São Paulo, Denise Lotufo. O tema foi “Tratamento humanizado nas fases pré e pós-testes, e adesão ao tratamento”, onde ela colocou em debate a importância dos serviços em saber lidar com os pacientes para que eles não abandonem o tratamento. “Precisamos entender cada caso para sabermos lidar com eles, buscar entender qual motivo levou aquela pessoa a parar o tratamento, porém a pessoa que tem HIV precisa saber que se ela parar de tomar o remédio ela vai adoecer e pode ter outras complicações. O que precisamos descobrir é o motivo que levou a pessoa a tomar essa decisão e isso é individualmente que vai sendo conversado. O serviço tem de fazer a sua parte de facilitar horários, ter consultas nos momentos adequados, garantir a entrada precoce da pessoa assim que for feito o diagnóstico, a pessoa ser atendida com rapidez, fazer os exames, ou seja, precisamos fazer a nossa parte.
Pelos dados que temos levantado, verificamos que a maioria das pessoas estão tomando corretamente o medicamento e estão indetectáveis, porém sabemos que algumas pessoas em algum momento de vida ou por alguma questão orgânica ou psicológica não conseguem dar continuidade ao tratamento, por mais que ela saiba disso tudo, isso é algo muito difícil pois não é uma coisa racional”, acrescentou.
Já o segundo dia do encontro foi marcado pela apresentação da proposta do trabalho em oficinas temáticas. Os participantes foram divididos em cinco grupos que procurou dentro do tema geral discutir a articulação e trabalhos conjuntos entre assistência social e saúde e levantar propostas. Foram elas: “Diagnóstico e cuidados com a população de rua: a interface necessária entre o Consultório na Rua e os Centros de Acolhida”; “Prevenção: a experiência do Cefran com jovens guaranis na aldeia do Jaraguá e saúde indígena”; “Prevenção: a experiência do CRT/SES”; “Direitos Humanos: preconceito e questão racial e de gênero”; e “Intersetorialidade necessária entre a saúde e a assistência social no atendimento às pessoas vivendo e convivendo com HIV/Aids”. Ao final foi realizada uma apresentação das discussões das oficinas e o compartilhar do levantamento de propostas que serão encaminhadas para as secretarias de assistência social e de saúde do município e do estado de São Paulo.
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