Por: Vitoria Martins
Os dados referentes à segurança alimentar no Brasil tornam-se cada dia mais preocupantes.
Segundo relatório das Nações Unidas divulgado em janeiro deste ano, ‘Panorama regional de la seguridad alimentaria y nutricional - América Latina y el Caribe 2022’, a insegurança alimentar moderada no Brasil aumentou em 10% entre os anos de 2019 e 2021.
Apesar de apresentar as taxas mais baixas de subnutridas da região, com 4,1%, devido a sua alta população absoluta, essa porcentagem equivale a 8,6 milhões de pessoas - a maior quantidade total da América Latina e Caribe.
Paradoxalmente, o Brasil é um dos países da América do Sul com o custo absoluto ‘mais baixo’ para manter uma dieta saudável, por volta de 3 dólares por dia por pessoa. Entretanto, somado ao longo do mês (R$479,70), o valor corresponde à mais de 1/3 do salário mínimo atual (de 1.302 reais em 2023),
Assim, 20% da população não têm acesso à alimentação saudável e essa falta de acesso regular a uma dieta adequada é um dos principais desafios a serem enfrentados ao longo dos próximos anos.
Por meio de diversos programas e políticas públicas de redistribuição de renda, incentivo à agricultura familiar, previdência social e direitos sociais, em 2014 o Brasil conseguiu sair do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas. Porém, a partir de 2015, com os desmontes dessas iniciativas iniciadas na década de 1990, a fome e a subnutrição voltou a assombrar parte da população brasileira mais vulnerável.
Avançando a ponto que, em 2022, chegamos ao marco de 33,1 milhões de pessoas não têm garantido o que comer, e 125 milhões em algum grau de insegurança alimentar. A maior quantidade de brasileiros nessa situação nos últimos 10 anos, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil.
Os anos da pandemia de Covid-19 contribuíram para o agravamento dessas condições, com o estabelecimento do isolamento social, aumento do desemprego, despejos e aumento da inflação ao longo de 2020 e 2021. Porém não são os únicos responsáveis.
A fome no Brasil é um problema histórico, cultural e estrutural.
As origens da fome brasileira
A quantidade de pessoas passando fome no Brasil atualmente não é um resultado do período histórico em que vivem - com desmonte de programas sociais e políticas públicas, descaso do governo e sequelas da pandemia de Covid-19. Mas também de um contexto mais amplo e antigo, remontando o surgimento da sociedade brasileira há 500 anos.
Conforme o livro “Fome e Assistência Alimentar na Pandemia”, publicado pelo Sefras em 2022, a fome está ligada às estruturas socioeconômicas herdadas do colonialismo.
A estrutura agrária, desigualdade e distribuição no meio ambiente permanecem até os dias atuais nas bases da sociedade brasileira, assim como a fome gerada por elas. Tornando-se, muitas vezes, hereditária entre as famílias que vivem nessa condição.
A fome que Clarinha*, uma das várias crianças que atendemos diariamente, e que você já deve ter conhecido pelas nossas redes sociais, sente também é sentida por sua mãe, sua avó, bisavó e assim por diante.
Essa conjuntura não vai se reverter tão facilmente, trata-se de um desafio a ser vencido a longo prazo.
E para vencermos as estruturas da fome, a defesa dos direitos sociais, redistribuição de renda, valorização do salário mínimo são de suma importância para garantir o mínimo de proteção social e alimentar aos mais vulneráveis.
Lutas das quais o Sefras atua diretamente tanto com a distribuição de marmitas, quanto pela incidência política. Pois sabemos que, para além de números e contextos históricos, a fome é uma emergência que dói no estômago, no coração e na alma de quem sente.
Você conhece a campanha ‘Servimos saúde, Doe proteína’?
A realidade da fome é dura, e enfrentamos ela de maneira combativa diariamente. Entre as nossas frentes de trabalho, a distribuição de refeições se destaca, sendo 4 mil por dia, um número que está em constante aumento e evolução.
Contudo, é insuficiente falar de alimentação se ignorarmos a importância da nutrição. Não basta alimentar, é necessário uma alimentação equilibrada que garanta a saúde de nossos atendidos.
A proteína é imprescindível, pois é responsável por formar e regenerar tecidos do corpo, como ossos e músculos, repor energia consumida pelas células, além de produzir anticorpos, enzimas, hormônios e neurotransmissores.
Infelizmente, os nossos estoques de proteína estão baixos, por isso, lançamos esta campanha. É necessário combater a fome sempre, mas com responsabilidade.
O SEFRAS
O Sefras é uma organização humanitária que luta todos os dias no combate à fome, a violações de direitos e inserção econômica e social de populações extremamente vulneráveis: pessoas em situação de rua, crianças pobres, imigrantes e refugiados, idosos sozinhos e pessoas acometidas pela hanseníase.
Guiados pelos valores franciscanos de Acolher, Cuidar e Defender, atua pelo Brasil atendendo mais de 4 mil pessoas todos os dias. São serviços diários que promovem apoio social e jurídico para população em situação de rua, acolhimento e inclusão social de imigrantes, contraturno escolar para crianças e adolescentes, convivência e proteção de idosos, além de ações de defesa dos direitos e melhoria de políticas públicas voltadas a esses grupos.
Para ajudar quem tem fome na cidade de São Paulo e do Rio de Janeiro, o Sefras atua distribuindo mais de 4 mil refeições diariamente, além de distribuir cestas básicas, itens de higiene e cobertores e roupas de frio.
Você pode ajudar o nosso trabalho doando qualquer quantia pelo nosso site ou pelo pix: sefras@sefras.org.br.
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