No dia 25 de maio, foi lançada a pesquisa “Insegurança Alimentar no Brasil: Pandemia, Tendências e Comparações Globais”, realizada por Marcelo Neri, pela FGV Social. O estudo traz os últimos dados disponíveis a respeito da insegurança alimentar no Brasil, levantados por meio do processamento do Gallup World Poll para comparar a realidade do Brasil com a de outros 160 países desde 2006, abordando recortes de renda, educação, gênero e idade.
De acordo com a definição da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a insegurança alimentar consiste quando um indivíduo não possui acesso físico, econômico e social a alimentos de forma a satisfazer suas necessidades nutricionais. E pode ser classificada como crônica ou temporária, em três níveis: leve, moderado e grave.
A pesquisa mostrou que a parcela de brasileiros que não tiveram dinheiro suficiente para alimentar a si mesmo ou a sua família em algum momento dos últimos 12 meses aumentou de 30% em 2019 para 36% em 2021. Este é um novo recorde da série iniciada em 2006, e também a primeira vez que a insegurança alimentar brasileira supera a média simples global.
Esse aumento, entretanto, foi sentido apenas por uma parte da população. O estudo também apontou que entre os 20% mais ricos do país, o nível de insegurança alimentar na verdade diminuiu de 10% em 2019 para 7% em 2021. Esse valor é próximo da média da Suécia, país com os menores níveis de insegurança alimentar no mundo, com apenas 5%.
Em contrapartida, os 20% mais pobres no Brasil viram os alimentos sumirem dos armários. Em 2019 os valores de insegurança alimentar dentre essa população era de 53%, em 2021 chegaram a 75% – um aumento de 22 pontos percentuais, chegando próximo ao nível do país com maior insegurança alimentar, Zimbawe (80%).
Esses dados são reflexo dos impactos sociais não apenas da pandemia e da falta de políticas públicas eficientes para auxiliar a população mais vulnerável, mas também dos anos de desmonte de programas e políticas de redistribuição de renda, incentivo à agricultura familiar, previdência social e demais direitos sociais, além do enfraquecimento da própria atuação do Estado.
Ainda, de acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), divulgado em 2021, cerca de 55,2% dos lares brasileiros vivenciavam um cenário de insegurança alimentar, um aumento de 54% em relação a 2018, quando esse percentual era de 36,7%. São 116,8 milhões de brasileiros sem acesso pleno e permanente à comida. Ainda, cerca de 19 milhões de brasileiros se encontram em situação de insegurança alimentar grave.
A Fome
Assim como a água, o alimento é uma condição essencial para a manutenção da vida. Porém, não se restringe apenas ao seu aspecto funcional, contemplando também fatores afetivos, econômicos e culturais.
A comida está associada à identidade e à memória de um povo, seja pela forma de preparar os alimentos, seja pelos hábitos criados em relação às refeições. É por meio da comida que se cria uma memória afetiva de quem somos e como estamos conectados, como família e comunidade. Dentro de um contexto de pobreza e exclusão social, todas essas condições para uma boa alimentação são violadas.
A questão da fome perpassa diversos outros problemas sociais e estruturais, se apresentando de diversas formas. Assim, não estamos falando de uma única fome, mas sim de várias. Quando uma pessoa é privada da alimentação básica para sua nutrição, ela não tem apenas a “dor de estômago”.
A conjuntura atual em que vivemos não vai se reverter tão facilmente, trata-se de um desafio a ser vencido a longo prazo. E para que isso ocorra é necessária muita reflexão sobre a forma que vivemos atualmente e sobre o futuro que estamos construindo. Afinal, fome é uma emergência, e dói no corpo, na alma e no coração de quem sente.
Sobre o SEFRAS
O Sefras é uma organização humanitária que luta todos os dias no combate à fome, a violações de direitos e inserção econômica e social de populações extremamente vulneráveis: pessoas em situação de rua, crianças pobres, imigrantes e refugiados, idosos sozinhos e pessoas acometidas pela hanseníase.
Guiados pelos valores franciscanos de Acolher, Cuidar e Defender, atua pelo Brasil atendendo mais de 4 mil pessoas todos os dias. São serviços diários que promovem apoio social e jurídico para população em situação de rua, acolhimento e inclusão social de imigrantes, contraturno escolar para crianças e adolescentes, convivência e proteção de idosos, além de ações de defesa dos direitos e melhoria de políticas públicas voltadas a esses grupos.
Para ajudar quem tem fome na cidade de São Paulo e do Rio de Janeiro, o Sefras atua distribuindo mais de 2 mil refeições diariamente, além de distribuir cestas básicas, itens de higiene e cobertores e roupas de frio.
Faça parte dessa corrente de solidariedade doando itens , em São Paulo, no Chá do Padre na Rua Riachuelo, 268 – Centro.
Tel: (11) 3105-1623 e no Rio de Janeiro na Tenda Franciscana no Largo da Carioca, s/ n, Centro.
Você também pode doar qualquer quantia pelo nosso site ou pelo pix: sefras@sefras.org.br.
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