Nos dias 5 e 6 deste mês, julho de 2022, foi realizado o Seminário Nacional do Grupo de Articulação da Rede Aquífero Guarani e Grande Chaco, na cidade de São Paulo. O evento contou com a participação de diversos grupos religiosos e instituições sociais, como o SEFRAS, para a discussão da defesa da água e diversidade, além de buscar aprofundamento em questões referentes às demandas territoriais – como sociais, culturais, econômicas, ambientais e o impacto da ação antrópica e mudanças climáticas.
O Aquífero Guarani é o maior manancial de água doce do subterrâneo do mundo, estendendo-se pela Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil – onde há sua maior ocorrência com 2/3 de sua área total, presente nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Quando a discussão envolve o Grande Chaco, inclui-se ainda a Bolívia na extensão territorial.
Uso irresponsável das águas
Diante de crises hídricas cada vez mais frequentes, principalmente no Estado de São Paulo, o Aquífero tem sido cada vez mais explorado para o abastecimento público de água. De acordo com o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) do estado, o ano de 2021 foi o período com maior concessão de outorgas para instalação de poços de extração das águas do Guarani (564).
No total, são 3.200 poços autorizados para operação em território paulista, sendo 71% deles com as licenças concedidas a partir de 2014, época em que São Paulo enfrentou uma das maiores crises hídricas de sua história. O estado, segundo a Organização dos Estados Americanos – OEA, ainda é responsável por 70% de toda extração de água do Aquífero, apesar de apenas 13% de sua extensão estar em território paulista.
A exploração do aquífero, que além de abastecimento público, ainda é usado para agricultura e mineração, é fonte de preocupação devido ao bombeamento intenso de água e pela contaminação das mesmas. De acordo com a Cetesb – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo, num relatório de 2020, afirmou que 23,9% das amostras coletadas no Aquífero Guarani apresentaram índices acima dos parâmetros para alumínio, bário, coliformes e selênio.
Para Cláudio Antonio de Moura, da Universidade Federal de Uberlândia, que realizou uma apresentação sobre o Aquífero Guarani e Grande Chaco durante o seminário: “Nós temos que discutir sobre a água que é fonte de vida. É fundamental que tenhamos compreensão das relações que estabelece entre a água de superfície, águas dos rios, a água que está nos lençóis subterrâneos superficiais e os aquíferos de profundidade.”
“As pessoas pensam que o aquífero é um oceano que está na parte mais interna da crosta terrestre, mas não é verdade. O Aquífero é uma rocha embebida com água e essa água é em grande quantidade, calcula-se que ela seria suficiente para abastecer todos os países onde está instalada por aproximadamente 200 anos. Mas, esta água está sempre sob risco de contaminações e por isso precisamos nos preocupar porque ela nos dá a possibilidade de termos a vida na superfície”, afirmou Cláudio.
O professor ressaltou ainda que a formação dos aquíferos se dá ao longo de milhões de anos e a má relação do ser humano com a terra está interferindo diretamente com o aquífero. Para além da contaminação, a modernização e crescimento das zonas urbanas impedem as águas de manterem o seu ciclo natural, escoando rapidamente para regiões específicas. Impedindo, assim, o tempo necessário de infiltração da mesma, o que continuaria mantendo a vida da bacia dos aquíferos.
Seminário Nacional do Grupo de Articulação da Rede Aquífero Guarani e Grande Chaco
Tal uso irresponsável das reservas de água foi o que motivou a realização do Seminário Nacional no começo do mês. O ponto central discutido foi a possibilidade de construção de uma rede social e eclesial de articulação para proteção do Aquífero Guarani e Grande Chaco, que ainda está sendo estudada.
Durante o evento, foram abordadas questões como: o escopo territorial para a representação da possível rede de articulação, assim como a criação de grupos de trabalho para organização da próxima reunião, e formação do processo metodológico para a criação da rede eclesial.
Quanto à delimitação do território de atuação, além da região do Aquífero Guarani e Grande Chaco, foi levantada ainda a inclusão da bacia do Rio da Prata e os Andes, no Chile. Entretanto, as instituições sociais e organizações religiosas de outros países que serão abordados ainda ficaram em aberto, assim como a relação com outras redes já existentes, como a Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM.
Tais questões ficaram sob responsabilidade dos Grupos de Trabalho definidos ainda durante o seminário: representando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, foram escolhidos Dom João Bergamasco, Dom Guilherme e Dom Reginaldo, e foi sugerido ainda o nome de Dom Silvio, da Diocese de Vacaria; das demais entidades, foram escolhidos o Professor Cláudio, Frei Rodrigo (SINFRAJUPE), Isolete Wichinster (Comissão Pastoral da Terra de Goiânia), Aloir Pacim (CIMI-MT) e Frei Marx Rodrigues dos Reis (SEFRAS/SINFRAJUPE). Estes também estão responsáveis pela organização das próximas reuniões, que a princípio ocorrerão nos dias 25 de julho com o Grupo Ampliado (que inclui entidades de outros países) e 18 de agosto com o Grupo Brasil.
Para Frei Marx, a principal importância desse debate e do encontro realizado está no entendimento de que a vida em sociedade e o ambiente eclesial precisam estar juntos das pessoas que vivem sobre as bacias, para assim entender também qual a relação do ser humano com a natureza e que a interferência que um exerce sobre o outro.
Nas palavras do religioso, “se a gente olhar, o estudo das águas, sejam elas superficiais ou as que estão de baixo do solo, elas possuem uma relação intrínseca. A nossa relação também com essas realidade afetam a vida sobre a biodiversidade. Perceber que a Igreja está preocupada com essa relação e com a relação humana é uma grande esperança, pois isso fará com a sociedade se empenhe, a partir da fé e de ações concretas, para mudar um pouco a realidade”.
Grupos religiosos e instituições sociais
Ecoteologia – Mundo Urbano; União dos Movimentos de Moradia – Pastoral da Moradia; CPT – SPC; CIMI – SP – MS – MT; CNBB 01; CPP – SC; CPP Nacional 1 – BSB; SPM Nacional – SP; CEPAST – CNBB; CNBB – Sul 04; Universidade Federal de Uberlândia; Comissão AST Leste 02; SINFRAJUPE – CEEM – CNBB, CPT-MG e Rede Igrejas e Mineração de MG; JPIC – OFM – SINFRAJUPE – SEFRAS; CPT – PR, SPM (Serviço Pastoral do Migrantes); CPT – Goiânia – coordenação CPT; cpt – Cuiabá; CBJP – CJP.
O SEFRAS
O Sefras é uma organização humanitária que luta todos os dias no combate à fome, a violações de direitos e inserção econômica e social de populações extremamente vulneráveis: pessoas em situação de rua, crianças pobres, imigrantes e refugiados, idosos sozinhos e pessoas acometidas pela hanseníase.
Guiados pelos valores franciscanos de Acolher, Cuidar e Defender, atua pelo Brasil atendendo mais de 4 mil pessoas todos os dias. São serviços diários que promovem apoio social e jurídico para população em situação de rua, acolhimento e inclusão social de imigrantes, contraturno escolar para crianças e adolescentes, convivência e proteção de idosos, além de ações de defesa dos direitos e melhoria de políticas públicas voltadas a esses grupos.
Para ajudar na seguridade dos direitos da criança e do adolescente com nossos trabalhos, nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, você pode doar qualquer quantia pelo nosso site ou pelo pix: sefras@sefras.org.br.
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