Quando pensamos em “Dia das Mães”, pensamos em tantas formas e expressões de homenagem. Mas no contexto social, político, econômico e sanitário que vivemos, é urgente nos mobilizarmos frente aos direitos de milhares de mães, que sofrem pela perda de seus filhos, outras vítimas da Covid-19, e pelo malabarismo existencial de suas rotinas.
No Brasil, o oitavo país mais desigual do mundo, os impactos da Pandemia são profundos: quase 8,5 milhões de mulheres saíram do mercado de trabalho no terceiro trimestre, e sua participação caiu a 45,8%, o nível mais baixo em três décadas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Desse universo feminino, as mães solo, que somam mais de 11,5 milhões no Brasil, passaram não somente a enfrentar mais riscos e dificuldades financeiras em decorrência da pandemia como também sofrem uma sobrecarga mental e um maior acúmulo de tarefas devido ao fechamento de escolas e creches.
Mães solo são as mulheres, únicas, ou as principais responsáveis pela criança. Elas, que já viviam uma rotina, muitas vezes, de tripla jornada para dar conta da criação dos filhos, do trabalho e da casa, estão em uma situação de, ainda mais, vulnerabilidade devido à crise de saúde que assola o país.
Segundo o IBGE, a maioria das mães solo no país são negras (61%). A raça dessas mulheres impõe mais barreiras e dificuldades ao acesso de direitos básicos que são agravados pela pandemia.
No Brasil, 63% das casas chefiadas por mulheres negras estão abaixo da linha da pobreza, segundo a Síntese dos Indicadores Sociais, do IBGE. Em 2018, segundo o estudo, esse valor equivalia a aproximadamente R$ 145 mensais, por pessoa.
As mulheres negras enfrentam maior restrição às condições de moradia, saneamento básico e internet nos arranjos em que são as chefes da família.
A proporção das mães negras e solo é maior em relação às mães brancas, com ao menos uma inadequação, como a falta de banheiro exclusivo, construção feita com material não durável ou mais de três moradores por quarto.
A cada 100 mães solo que possuem filhos com menos de 14 anos, 4,6% dessas mulheres são negras e não contam com um banheiro exclusivo. Entre as mulheres brancas, a proporção já cai para 1,4.
A desigualdade racial também se reflete no acesso ao saneamento básico e internet, já que 42% das mulheres negras não contam com saneamento básico e 28% não têm internet, em comparação a 28% e 23% das mulheres brancas, respectivamente.
Em meio às diversas mudanças nas dinâmicas de trabalho, com preferência para trabalho em casa e chamadas de vídeo, a falta de conectividade impacta diretamente na fonte de renda dessas mulheres.
Além da sobrecarga e das dificuldades financeiras, um dos impactos da pandemia da Covid-19 é na saúde mental das mães solo. Menos falado, mas muito presente, os efeitos psicológicos são importantes.
Recentemente, a Organização das Nações Unidas (ONU) destacou a necessidade de aumentar urgentemente o investimento em serviços de saúde mental nesse período e pontua que “quem corre um risco particular são as mulheres, particularmente aquelas que estão fazendo malabarismos com a educação em casa e trabalhando em tarefas domésticas.”
Por isso, neste “Dia das Mães”, nossa reivindicação deve ser pela garantia de emprego, comida à mesa e políticas públicas de educação, saúde e moradia para as mães e seus filhos.