Com articulação do Sefras foi feito um evento, na última semana, no Rio de Janeiro para articular propostas que visam proteger nossa Casa Comum.
O SEFRAS, enquanto uma instituição que atua em defesa do meio ambiente, dos povos originários e tradicionais e da nossa Casa Comum (o planeta terra), iniciou um projeto para desenvolver uma agenda de mobilização para o evento Rio+30, em conjunto da SINFRAJUPE, PUC-RJ, Pastorais Sociais do Rio de Janeiro e demais parceiros, em um evento realizado dos dias 24 a 26 de junho.
A iniciativa “A Nossa Casa ainda está em ruínas!” teve como objetivo atualizar o debate em torno da Agenda Climática e dos desafios encontrados diante da história destas iniciativas, e preencher as lacunas e falhas deixadas pelas resoluções de conferências anteriores.
No primeiro dia de evento, na PUC-RJ, foi feito um debate com defensores ambientais e levantados assuntos importantes sobre o caminho que deve ser seguido para que o planeta possa ser preservado.
O jornalista Felipe Milanez compartilhou parte de suas experiências na Amazônia e sua preocupação com o futuro da floresta. “Precisamos pensar na Amazônia lá, mas também precisamos pensar na Amazônia aqui. Qual a nossa responsabilidade com a Amazônia no nosso cotidiano? De pessoas que não vivem na Amazônia, mas sim, com a Amazônia.”, afirmou.
Ele ainda contou uma experiência que teve com um ruralista que afirmou que os ambientalistas não contribuem para a sociedade brasileira e por isso eles devem ser “excluídos da sociedade brasileira”. Felipe também destacou a importância de agir para mudar a realidade atual, “nós precisamos pensar o mundo, o capitalismo, a grilagem de terras e de subsolos, mas também devemos nos articular para agir, caso contrário nós vamos desaparecer”, pontuou.
Já a pesquisadora Moema Miranda, falou das formas de destruição do capitalismo, “acho que é impossível pensarmos e analisarmos o mundo que vivemos hoje, sem a consciência do capitalismo e a lógica de acumulação ilimitada do capital, que é excludente e destrutivo”.
Ela também citou uma frase do Papa Francisco que diz: “A história dá sinais de regressão” e fez uma profunda reflexão de como nós somos responsáveis pela vida de todo o planeta e de como essa responsabilidade está, hoje, não mão de poucos que ousam arriscar a própria vida em defesa do meio ambiente.
Ângelo Inácio, coordenador da Pastoral do meio ambiente no Rio de Janeiro, explicitou a sua angústia quanto ao desmatamento e a destruição dentro da capital fluminense. Ele também apresentou um dossiê da cidade do Rio que mostra os pontos de exploração na cidade. “O problema principal é a exploração imobiliária tentando pegar um espaço público sem pagar”, disse.
Outro importante ponto de vista mostrado durante a aula aberta foi do pescador Alexandre Anderson de Sousa que expôs suas experiências pessoais na busca de preservar a Baía de Guanabara da exploração de petróleo e gás que polui o mar e tira o sustento de todos os pescadores do local.
Ele contou que já chegou a ficar 40 dias no mar para evitar a instalação de um gasoduto, e que apesar de muitas ameaças de morte ficaram firmes e conseguiram evitar a construção.
Alexandre lamentou as mortes de companheiros que foram assassinados por brigarem pela preservação da baía, mas disse que não vai parar de brigar. “Enquanto eu estiver vivo o movimento de preservação e de pesca não exploratória vai continuar na Baía de Guanabara”, afirmou.
Além disso, o movimento dos pescadores tem, além da briga individual, denunciado a violência e a exploração, documentando os problemas que eles vivem há anos. O que mostra que a violência contra os defensores da terra e do meio ambiente tornou-se sistêmica e não mais individual.
Essa violência institucionalizada foi tratada no boletim lançado neste evento. O documento revela essa realidade, “Há uma ampla gama de novas dimensões de violências, tanto físicas, quanto políticas e econômicas que emergiram nos últimos anos. A estrangeirização da terra fez com que os proprietários nacionais se tornassem verdadeiros gerentes de investidores internacionais, com a ameaça de abertura do mercado de terras para o capitalismo internacional. Aumentaram os conflitos com terras ocupadas por pessoas, e o racismo, cada vez mais explícito, tornou-se uma engrenagem dessas dimensões da violência”.
Para o Frei Marx Rodrigues, que organizou o evento, a violência institucionalizada é o motivo pelo qual o desmatamento e a violência contra povos originários batem recordes, ano após ano.
As programações do segundo e terceiro dias do evento foram reuniões de articulação com pensadores e coletivos para a formação de uma rede que se propõe desenvolvimento de proposta de incidência política dos franciscanos e franciscanas frente a agenda climática para os próximos anos.
Rio de Janeiro e o meio ambiente
A cidade do Rio de Janeiro ocupa historicamente um espaço importante dentro dos debates acerca do meio ambiente, tanto em âmbito nacional como internacional. Foi sede para a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92 ou Rio-92, que debateu importantes pontos científicos, diplomáticos, políticos e ambientais.
A questão da proteção ambiental, até então, carecia de uma abordagem metodológica, em que se pudesse averiguar os impactos dos processos de desenvolvimento econômico exploratório dos países no planeta. Até o início dos anos 1970, o senso comum global era de que o meio ambiente seria uma fonte inesgotável de recursos, e assim poderíamos agir de forma ininterrupta sem gerar nenhum problema para a manutenção da vida no planeta.
Ainda nos anos 90, com a globalização e o ideal de desenvolvimento econômico como uma meta a ser alcançada por toda a humanidade, as questões ambientais começaram a ser observadas de forma gradativa. Os países industrializados foram confrontados a perceber o impacto negativo das suas tecnologias ao meio ambiente, assim, muitos passaram a questionar a visão de que os recursos não seriam ilimitados.
Assim, foi acordado que os países em desenvolvimento receberiam apoio financeiro e tecnológico para alcançarem modelos de desenvolvimento sustentáveis. A partir do documento do encontro, a Agenda 21, foram estabelecidas algumas políticas e ações de responsabilidade ambiental, como por exemplo: mudanças necessárias aos padrões de consumo (especialmente em relação aos combustíveis fósseis como petróleo e carvão mineral); a proteção dos recursos naturais; e, o desenvolvimento de tecnologias capazes de reforçar a gestão ambiental dos países.
Mas a Agenda 21 foi além das questões ambientais. Nesse documento houve uma preocupação direta em abordar os padrões de desenvolvimento que causam danos ao meio ambiente que precisavam ser combatidos, como: a pobreza e a dívida externa dos países em desenvolvimento; os padrões insustentáveis de produção e consumo; as pressões demográficas e a estrutura da economia internacional.
Rio +20
Vinte anos depois, o Rio de Janeiro celebraria o vigésimo aniversário da Eco 92 com a Rio+20. Nesse momento, as questões ambientais tomam destaque por conta das perspectivas das catástrofes ambientais, o mundo esperava uma resposta concreta dos países que fosse assumida com afinco por todos os convidados.
A Conferência apresentou a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável. Dois temas se tornaram os principais: a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.
Ocorreu nessa mesma reunião, a atuação dos movimentos sociais e ativistas, incluindo a participação dos franciscanos, para pressionar os tomadores de decisão para mudarem os rumos da conferência. Essas iniciativas apresentavam uma falta de responsabilidade nos acordos compactuados na Eco 92 e na insustentável proposta de uma economia verde.
Rio+30
Este ano de 2022, com a marca de três décadas da realização da Rio 92, a cidade volta a ser palco para a discussão ambiental. Entre os dias 17 e 19 de outubro irá sediar a Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável e Inclusivo – Rio+30.
A cidade reunirá prefeitos, redes, setores produtivos da indústria e do comércio, academia, lideranças globais, comunidades tradicionais e ativistas para discutir propostas e elevar a ambição dos compromissos das cidades com a promoção do desenvolvimento sustentável. E assim, desenhar uma agenda urbana para um presente mais verde para todos nós ao refletir sobre políticas públicas e implementações de ações concretas de baixo carbono em conjunto com a justiça social.
Parceiros Envolvidos no evento franciscano: Ordem dos Frades Menores, Movimento Laudato Sí, Ordem dos Frades Capuchinhos, Família Franciscana do Brasil, Articulação Brasileira da Economia de Francisco e Clara – ABEFC, Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, Conexão Fraterna, Rede Jubileu Sul, Plataforma DESCHA, Franciscans International.
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