A história do Chá do Padre remonta desde o tempo da fundação do Convento de São Francisco em 1640, na atual Praça do Patriarca perto do que hoje é conhecido como Viaduto do Chá, e da própria cidade de São Paulo.
Desde de sua chegada, os frades já atuavam ajudando e cuidando das pessoas mais desfavorecidas, dentro do escopo que lhes cabia. Segundo Frei Tiago Elias, “os freis cuidavam de leprosos, pessoas em situação de rua… muitos eram escravizados que foram jogados fora por fazendeiros devido a idade avançada”.
Na época, seguiam a tradição de Santo Antônio e agiam fornecendo pão e bebida quente para aqueles que se aglomeravam na frente do convento. A distribuição dos alimentos era possível devido às doações que recebiam do povo de São Paulo, que consistia majoritariamente em chá.
Próximo da região do convento, havia uma grande concentração de plantações de chá. “Os freis pediam doação de pão e bebida quente para poder servir aos desvalorizados. E o que as pessoas mais tinham era chá” afirma Tiago.
Mesmo após a mudança de endereço do convento, que em 1947 passou para o atual Largo São Francisco, os freis seguiram fazendo o chá e servindo o pão para os desfavorecidos.
“Todo esse trabalho foi crescendo ao longo dos séculos, e o convento ficou conhecido popularmente como Chá do Padre”, diz o religioso. “Impossível mudar esse nome. Pode falar SEFRAS ou o que for, mas o que todos entendem é Chá do Padre”.
Ainda, devido a essa atuação, que a região do largo recebeu o nome homenageando à São Francisco de Assis.
Além do pão e do chá: expandindo o trabalho franciscano
Apesar de ter recebido o nome devido ao pão e ao chá, o serviço hoje em dia vai muito além do fornecimento de alimentos.
Cerca de 20 anos atrás, os franciscanos presentes em São Paulo começaram a repensar sua atividade. Buscavam meios de favorecer a dignidade humana como um todo.
É neste contexto que surge o SEFRAS -Ação Social Franciscana - enquanto organização, como forma de organizar as ações sociais e assistenciais dos frades em seu território de atuação.
Procuraram também entrar em contato com o meio público, tanto para receber verba para manutenção dos serviços, mas também para abrir um canal para incidência política. Por meio desse envolvimento, hoje, o Chá do Padre contempla uma vasta gama de atividades, que vão desde o eixo de arte e cultura até questões de defensoria pública.
Para Frei Tiago, "o Chá se tornou um local onde se pode estar, e não apenas passar, pegar o seu pãozinho, tomar o seu chá e ir embora. Hoje temos vários elementos que nutrem o ser humano, tanto em questão do corpo quanto da própria alma”.
Atualmente, o Chá do Padre funciona das 7h às 19h. E fornece, além de refeições, banhos quentes, toalhas, sabonetes, shampoo, escova e pasta de dentes. Além de atividades socioeducativas, oficinas, eventos celebrativos e refeições.
Devido à relação com o poder público, a Prefeitura da Cidade de São Paulo oferta cerca de 450 refeições ao serviço para que sejam distribuídas à população de rua.
Entretanto, “ao longo desses anos, principalmente após a pandemia, esse número de refeições não suprem a necessidade da população de rua em São Paulo”, afirma o frei.
Segundo ele, o Chá chega a servir diariamente de 700 a 800 refeições, demanda que apenas é cumprida devido à parcerias com cozinhas solidárias, que oferecem refeições para serem distribuídas.
“Nós temos relações, que são realmente extraordinárias, é um milagre de fato. São cozinhas e instituições diferentes que se juntam para sanar a fome do povo”, finaliza frei Tiago.